Tenho diabetes gestacional. Que exercício fazer? O que comer?

Tenho diabetes gestacional. Que exercício fazer? O que comer?

O que é Diabetes Gestacional (DG)?

“É definida por uma anomalia da tolerância aos hidratos de carbono diagnosticada pela primeira vez, resultado em graus variáveis de hiperglicemia materna. Esta condição pode ser prevenida ou controlada com alteração de estilo de vida, (dieta e exercício) e meios farmacológicos (insulina e/ou antidiabéticos orais)”. Ata Médica Portuguesa 2018 Jul-Agosto.

A Diabetes Gestacional pode ser detetada de duas formas:

  • Análises ao sangue no primeiro trimestre de gravidez: São pedidas pelo obstetra várias análises incluindo o valor de glicémia em jejum. Quando acima dos 95 mg/dl o obstetra faz o encaminhamento com um médico especialista em medicina interna – endocrinologista.
  •  Prova de tolerância à glicose (PTGO). Entre as 24 e as 28 semanas são pedidas as análises do segundo trimestre que inclui esta prova. Consiste na ingestão de um líquido açucarado (75g de glicose diluída em 300 ml de água com avaliação antes da ingestão, 1 e 2 horas depois.
  • Quando nas primeiras análises é diagnosticada a DG, a análise da prova de tolerância à glicose já não é realizada no segundo trimestre. Será realizada 6 a 8 semanas após o parto para reavaliação. 

Como monitorizar, vigiar e controlar os níveis de glicose no sangue de forma a não prejudicar o bebé:

  • O hospital, onde a grávida é acompanhada, facultará um medidor de glicémia para que sejam registados os valores diariamente.
  • O médico especialista em medicina interna fará no mínimo 3 consulta (uma por trimestre), para avaliar os valores da glicémia que devem ser medidos pelo menos três vezes ao dia nos seguintes momentos do dia (Jejum, 1 hora depois do pequeno-almoço, 1 hora depois de almoço, 1 hora depois de jantar).
  • Primeiramente, os valores são controlados com o controlo das horas de jejum (evitar mais de 6 horas em jejum), com uma nutrição adequada que pode e deve ser realizada com a ajuda em um nutricionista, e com exercício físico que pode ser também realizada com a ajuda de um profissional de exercício físico.
  • Caso não se consiga controlar os níveis de glicémia pelos meios naturais, terá de haver uma prescrição de medicação que poderá ser insulina ou metformina (anti-diabético oral). 

Que exercício físico fazer, que tipo, que duração:

  • Exercício aeróbio (caminhada, bicicleta estática, dança, natação, hidroginástica). Feito regularmente no mínimo 30 minutos ajudam a reduzir o açúcar no sangue.
  • Exercício de força: Máquinas, elásticos, pesos, peso do corpo entre outro material pode ser um bom aliado para a eliminação do excesso de glicose. Segundo a American Diabetes Association, o treino de força aumenta a capacidade de reservas de glicogénio, aumenta os recetores de GLUT 4 (Proteína transportadora de glicose) no músculo e no tecido adiposo, aumenta a sensibilidade à insulina e normaliza e tolerância à glicose.
  • A intensidade deve ser moderada. Para saber isso, pode fazer o “teste da conversa”. Deve conseguir conservar naturalmente. Pode contar até 10 a um ritmo moderado para perceber se está numa intensidade confortável.
  • O volume de treino.
  • A progressão, deve ser de acordo com o nível de exercício que já tinha. Se não fazia exercício antes da gravidez é melhor avaliar com um profissional de exercício. Fazer uma caminhada de curta duração em piso plano (10 minutos, por exemplo) pode ser uma opção segura para começar. 
  •  A frequência, pode fazer todos os dias 30 minutos ou dia sim, dia não caso sinta cansaço devido à alterações naturais da gravidez.

Benefícios do exercício, tanto aeróbios como de força, na gravidez:

  • Em primeiro lugar a grávida deve escolher o exercício que a faça sentir bem e segura. Com esse ponto de partida já terá bastantes benefícios para o seu estado emocional. 
  • Para além de regular a DG, tem benefícios a nível articular e muscular. Com o aumento natural do peso corporal e as alterações ósseas e a pressão ligamentar, ter os músculos fortalecidos será uma mais-valia para passar uma gravidez o mais confortável possível.
  • Ajuda a evitar a toma ou a reduzir a dosagem de fármacos para o controlo da DG.

O meu testemunho pessoal sobre Diabetes Gestacional:

Descobri às 6 semanas que tinha DG após as primeiras análises ao sangue. Foi algo inesperado, pois tenho hábitos alimentares saudáveis e faço exercício regularmente. Após o contacto do médico obstetra que me acompanha, fui encaminhada para uma consulta com a médica especialista em medicina interna. Fiz mais uma análise específica à hemoglobina glicada para perceber o índice glicémico.

Na primeira consulta percebi que o que provocou esta resistência à insulina foram as mais de 8 horas de jejum noturno, pois os únicos valores que estavam um pouco altos eram os em jejum. 

As recomendações da médica foram comer de 2 em 2 horas, fazer um bom jantar e comer a ceia que era algo que nunca tive necessidade por não ter fome. A recomendação de ceia foi comer frutos secos, mas mesmo assim não era suficiente para manter sempre os níveis de glicémia em jejum baixos. Durante um período tive de comer entre as 00h e as 2h da manhã, uma sandes com pão de sementes com queijo e ainda os frutos secos. Foram necessários apenas dois meses nesta rotina para conseguir equilibrar de vez os valores em jejum. 

Após esse período, continuei a alimentação que tinha, apenas reduzi a ceia para um iogurte e ao jantar também reduzi um pouco a quantidade para que não houvesse um ganho de peso excessivo. 

O exercício manteve-se regular, entre caminhadas, treino de força e bicicleta estática. Nos dias em que tinha os valores em jejum altos e fazia exercício, depois ao reavaliar notava logo uma diminuição para os valores de referência normais.

Dessa forma não foi necessário tomar a medicação que a médica tinha prescrito, consegui manter o controlo com um estilo de vida moderado e saudável. A DG não interferiu em nada na minha gravidez nem no desenvolvimento do meu bebé.